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Na lógica matemática, um mais um resulta dois
Uma formalização perfeita, na aparência
Pois na essência, os números são infinitos
E na infinitude não há resultado absoluto
No amor, uma mais um resulta casal
Uma formalização cultural, na aparência
Pois na essência, o amor é incompleto
E na incompletude não há resultado absoluto
Impossível a matemática do amor
Campo ilógico e perdido em contradições
Passível de dor, mas repleto de esplendor
O caminho possível da tênue felicidade
Salvo quando um for demais…
As belas folhas verdes caem amareladas e estamos na primavera
Enquanto os pássaros voam receosos de serem abatidos
Não cantam mais, atentos à defesa da vida estão
As flores, onde estarão as flores que embelezam o mundo?
A vida turvou-se quando um ninguém saiu de sua histórica mediocridade
E milhões de heróis anônimos surgiram de repente nas esquinas a uivar
O pensamento livre vê-se esmagado pelo grito ritmado das massas obedientes
Justiça! Ah a Justiça, agora veste toga palidecida pelo temor
Diante da liberdade, mais uma vez o povo se acorrenta
Da iniquidade de cada um fortalece-se a barbárie social
A verdade! Sempre a verdade verdadeira comandando as hecatombes
O semblante tomou o lugar do real, com pretensão de eternidade
A vida se esvai com permissão, e a sobrevivência torna-se condição
Mas os sobreviventes são subtraídos da paixão pela vida
Já que o passado não ensina, os estragos ficam para a história resolver
Talvez um dia a humanidade perca a capacidade de consertar seus erros
O que resta fazer aos que ainda querem ternura?
Arrancar as fachadas e buscar o que há em sua nudez?
Não, não dá, os homens “de bem” sempre vencem
Porém a história não termina, mesmo submetida aos mais terríveis golpes
Sempre haverá uma música, um canto de dor, um sorriso furtivo, a travessura…
Quiçá um coração apaixonado a dizer:
“Não me importo com suas maldades, não quero saber da soberba humana
Me interesso pela paz, pelo único bem com valor: a vida a ser vivida…”
O futuro sairá desse presente bruto e cruel
E a palavra amor, se reinventada, poderá contaminar os duros corações
Dos imbecis, dos perversos, dos politicamente corretos, dos donos da verdade
Dos compradores moldados e anestesiados pelas diversões fabricadas
O cotidiano das aparências não suporta a sensualidade
Necessita das relações com pudicícia e violência
A história nos trai e faz triunfar os maus
A revolução terá sua semente na palavra impossível
Pois da impossibilidade surgirá o possível mundo novo
Que nunca será novo, pois em permanente transformação…
Nas profundezas da complexidade humana
Quando o simples se dissipa no infinito das contradições
As teorias humanitárias perdem sentido diante dos fatos
O ódio se estrutura como razão do cotidiano
Tímido, o amor corrói, devagarinho, as entranhas da violência
E tua singela existência vira potência de resistência
Pois nada consegue assustar um coração apaixonado
Disposto a tudo e ao nada, tão só interessado em te amar
Afinal, o que interessa as loucuras do mundo?
Para quem apenas deseja sorrir e te beijar…
Minha análise do momento brasileiro:
À Arte
Há momentos nos quais a história nos coloca à beira do abismo
Com a complacência das massas ignaras, os cultivadores da morte vencem
Em busca de proteção, fazem triunfar o pai perverso
A violência se institucionaliza, a liberdade e as diferenças são massacradas
A vida torna-se um perigo e podem nos matar a qualquer instante
O medo impõe o sofrimento como condição de existência
A luz da vida boa se apaga e a escuridão parece ser infinita
Mas a dor é a maior fonte da arte, da poesia e das lutas por liberdade
É hora de tomarmos as armas da palavra, da música e da paz
Vamos cantar, vamos amar e, entre abraços e beijos, fazer política
Assim evitaremos a guerra logo à frente
Como já foi feito e talvez teremos de fazer de novo.
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