As belas folhas verdes caem amareladas e estamos na primavera
Enquanto os pássaros voam receosos de serem abatidos
Não cantam mais, atentos à defesa da vida estão
As flores, onde estarão as flores que embelezam o mundo?
A vida turvou-se quando um ninguém saiu de sua histórica mediocridade
E milhões de heróis anônimos surgiram de repente nas esquinas a uivar
O pensamento livre vê-se esmagado pelo grito ritmado das massas obedientes
Justiça! Ah a Justiça, agora veste toga palidecida pelo temor
Diante da liberdade, mais uma vez o povo se acorrenta
Da iniquidade de cada um fortalece-se a barbárie social
A verdade! Sempre a verdade verdadeira comandando as hecatombes
O semblante tomou o lugar do real, com pretensão de eternidade
A vida se esvai com permissão, e a sobrevivência torna-se condição
Mas os sobreviventes são subtraídos da paixão pela vida
Já que o passado não ensina, os estragos ficam para a história resolver
Talvez um dia a humanidade perca a capacidade de consertar seus erros
O que resta fazer aos que ainda querem ternura?
Arrancar as fachadas e buscar o que há em sua nudez?
Não, não dá, os homens “de bem” sempre vencem
Porém a história não termina, mesmo submetida aos mais terríveis golpes
Sempre haverá uma música, um canto de dor, um sorriso furtivo, a travessura…
Quiçá um coração apaixonado a dizer:
“Não me importo com suas maldades, não quero saber da soberba humana
Me interesso pela paz, pelo único bem com valor: a vida a ser vivida…”
O futuro sairá desse presente bruto e cruel
E a palavra amor, se reinventada, poderá contaminar os duros corações
Dos imbecis, dos perversos, dos politicamente corretos, dos donos da verdade
Dos compradores moldados e anestesiados pelas diversões fabricadas
O cotidiano das aparências não suporta a sensualidade
Necessita das relações com pudicícia e violência
A história nos trai e faz triunfar os maus
A revolução terá sua semente na palavra impossível
Pois da impossibilidade surgirá o possível mundo novo
Que nunca será novo, pois em permanente transformação…

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